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Sorriso: Casal torna paixão por café em negócio de família e vira referência no ramo

Queridinho dos brasileiros, para muitas pessoas o café é a bebida essencial para começar o dia, mas é também uma ótima pedida para tomar durante um encontro, em reunião de negócios, no trabalho, ou lazer. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), feita em 2023 em que era possível escolher mais de uma resposta, revelou que 61% dos entrevistados são motivados a tomar café para melhorar o humor e disposição; 40% bebem por ritual, prazer e bem-estar; e 35% pela oportunidade de interação com pessoas.

Com açúcar ou sem, o gosto pelo cafezinho não só aproxima as pessoas social e afetivamente, como também movimenta a economia do Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a expectativa para a safra de café em 2024 é positiva, com recuperação da produtividade e estimativa de 58,08 milhões de sacas de 60 quilos.

Foi a tradição e a paixão pelo café, presente nas refeições e momentos de união da família, somada à vontade de começar um novo negócio, que fizeram com que José Inácio Rocha Filho, 51, e a esposa Raquel Pires Rocha, 41, mudassem a área de atuação para investir as economias da família no sonho de fabricar e vender cafés especiais no município de Sorriso (420 km ao norte de Cuiabá).

A decisão veio no ano de 2022, após muito estudo para entender o ramo e suas especificidades. Convencido de que iria deixar a Tecnologia da Informação após 20 anos, José fez cursos, procurou o aparato técnico e equipamentos, enquanto Raquel, formada em Contabilidade, ficou encarregada da parte administrativa e financeira.

Os dois filhos do casal, Lucas Augustus Pires Rocha, 17, e Vinicius Rocha, 21, também participam da produção dando auxílio e suporte nas torras, no processo de embalar, no marketing, vendas e relacionamento com clientes.

O local, onde antes era apenas o cantinho do café, hoje abriga as sacas dos grãos que compram de fornecedores de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, assim como os equipamentos utilizados na torra do café especial, que posteriormente é moído. O espaço tem um ar industrial sem deixar de lado a estética caseira e aconchegante da produção caseira e artesanal.

Presença do café na vida da família

A história com a bebida escura e cafeinada começou antes mesmo dos caminhos do casal se cruzarem. Raquel é nascida em Ijuí, no estado do Rio Grande do Sul. Do gosto pelo chimarrão, o paladar enveredou para o cafézinho, o qual sempre apreciou, incentivada pela família e faz questão de mencionar que prefere sem açúcar, fã da bebida mais forte e rústica.

Natural de Terra Roxa, oeste do Paraná, José Inácio trabalhou na roça quando mais jovem, onde teve contato mais direto com o fruto. “Querendo ou não, a gente sempre esteve envolvido com o café, não da forma como produtores em larga escala. Quando eu morava no Paraná era na cidade, mas quando eu vim para o Mato Grosso era tudo sítio. A gente morava numa vilazinha e o meu pai tinha um sítio que produzia café para consumo próprio”, relembra.

Ambos deixaram a região Sul em 1984 e vieram para Mato Grosso com as famílias quando a região estava começando a se desenvolver. Foi no estado que os dois se conheceram, em Santo Antônio do Rio Bonito, e começaram a namorar.

Com Raquel grávida do primeiro filho e a situação um pouco difícil, José foi trabalhar com informática em Cáceres, pois tinha curso e qualificação feitos em São Paulo, quando deixou o trabalho com madeireira anos antes. Entre idas e vindas voltou para a manutenção de computadores. Raquel mudou-se para Sorriso em 2002, já ele chegou à cidade um ano depois. Morando juntos, José permaneceu no ramo de telecomunicações até poucos anos atrás.

A apreciação do café especial, aqueles com notas e sensoriais diferentes do tradicional de torra mais escura, entrou na vida do casal e dos filhos em 2019 quando compravam os grãos e adquiriram um pequeno moinho para consumir.

“Tanto a minha família quanto a dele já tinha o hábito de tomar café da manhã e café da tarde. Quando nós casamos esse hábito continuou. Nós dois não consumimos bebida alcoólica, então no fim de semana, sábado e domingo fazemos algo mais especial com comidas, bolo, pão de queijo e sempre acompanhado do café”, diz Raquel.

Negócio de família

O desejo do casal era mudar de ares. Sair da rotina já conhecida e ter o próprio negócio. Inicialmente a ideia era abrir uma loja de roupas, mas não era exatamente algo que eram apaixonados. O gosto pelo café foi um aliado importante na hora de decidir o ramo que iriam seguir, pois queriam trabalhar com algo interessante para ambos além do fator financeiro.

A dificuldade de encontrar os diferentes tipos de cafés em mercados tradicionais também impulsionou a vontade pela produção própria. “Essa coisa de experimentar novos tipos de café faz você criar aquele vício de sempre querer um sensorial diferente e começar a pesquisar como ele é feito. Isso foi despertando também essa ideia de ter a micro torrefação, para entender como funciona”, explica Raquel.

José Inácio descreve que o café especial é diferenciado pelos sabores e é geralmente encontrado em locais que vendem produtos especiais. Para chegar a decisão, houve muita pesquisa por conta do investimento e aquisição de grãos. “O investimento que tinha que ser feito não era baixo, principalmente o torrador, é uma máquina mais complexa. Não que o processo de torra não seja simples, só que esse torrador também tem a tecnologia de monitoramento de temperatura, controle de chama, controle de ar, para a hora que você for torrar o café ele sair da forma que você deseja”, conta.

Café Especial

Atualmente a família vende cafés com notas de caramelo encorpado, chocolate, avelã, cítrico, rapadura e vô mineiro. Ao contrário do que se pensa, os cafés especiais não são saborizados industrialmente. Suas características vêm direto do campo e diversos fatores influenciam no sabor final, desde o plantio de cada variedade, a altura do local, adubagem, condições de clima e temperatura, seleção de grãos na colheita, formato do fruto, até mesmo onde o produto vai secar, a forma de armazenamento, umidade, etc.

“O local onde é plantado, a quantidade de nutrientes que a planta recebeu e injetou no grão, a quantidade de insolação, quantidade de água de chuva, tudo influencia. Hoje existe bastante plantio de café especial já irrigado para controlar isso, mas eles não conseguem controlar o sabor que vai sair o café. O sensorial, se ele vai ser um caramelo, ou chocolate, um caramelo frutas vermelhas, um rapadura, abacaxi, isso só vai saber depois que for feita a torra e a pessoa especialista experimentar e fizer um teste, uma degustação”, explica José.

Todo o cuidado diferenciado em sua produção também impacta no valor. O especialista testa o café e verificar o sensorial, descreve o tipo, sua qualidade e pontuação.

“Os bons cafés especiais são os cafés de altitude, acima de 800 metros. Quanto mais alto, mais o café tem a possibilidade de produzir um especial. Tem a qualidade da planta em si, do tipo de manejo, de todo o período até o café colhido. Se eu não tiver um café bem produzido, bem cuidado desde o momento que teve a flora, ou antes disso, eu não vou ter um café especial, porque ele começa lá no campo. Eu posso estragar um café especial, errando a torra, mas eu não tenho como pegar um café simples e transformar ele em especial”, ressalta.

Planos futuros

No momento os produtos da família podem ser adquiridos sob encomenda via Instagram @floradaespecial com retirada no local, entrega de forma combinada ou em pontos de vendas em outros comércios na cidade que possuem parcerias, pois não estão disponíveis em supermercados tradicionais.

Embora não tenham decidido ainda sobre a abertura de um ponto de vendas fixo, José Inácio diz que a perspectiva é expandir o negócio para as vendas online a partir do site que estão criando para poder levar a outras regiões a produção caseira.

“O pessoal recebeu bem, temos fidelizado clientes. Tem alguns que desde quando a gente começou experimentou a primeira vez e continuou sempre comprando. Tem outros também que eu tive que me adaptar fazendo a torra mais escura. A gente já teve também críticas construtivas e eu agradeço muito, porque se não fossem elas a gente ia continuar com um produto que talvez não agradaria um ou outro. É questão de evolução”. 

Mariana da Silva – Gazeta Digital

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