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Itanhangá: Incra e PF “tomam” terras de assentados e comércios fecham as portas em protesto a reintegração de posse

Itanhangá vive um momento de grande tensão e frustração. Na manhã desta quarta-feira (24.07), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), com apoio da Polícia Federal, deu um prazo de 24 horas para que os assentados desocupassem as terras que abriram e tornaram produtivas ao longo dos últimos 15 anos.

O Projeto de Assentamento da Reforma Agrária Itanhangá, que inicialmente recebeu cerca de 1.140 famílias em 1995, será retomado pelo INCRA. A área de 115.035 hectares foi, em grande parte, transformada em grandes fazendas por grupos de aproximadamente 80 grandes produtores rurais e grileiros profissionais. Essa transformação é alvo de uma ação judicial impetrada na Justiça Federal para reintegração de posse em favor da União, com base em investigações realizadas ao longo de 10 anos pela Polícia Federal.

As investigações, que culminaram na Operação Terra Prometida em 2014, apuraram vários supostos tipos de crimes no Projeto de Assentamento Itanhangá. Segundo a Polícia Federal, a maioria dos assentados originais abandonou seus lotes, restando apenas 10% ainda na área. Os outros lotes foram ilegalmente incorporados por grandes fazendeiros.

A decisão de reintegração de posse gerou grande insatisfação entre as famílias que passaram décadas trabalhando arduamente para transformar a terra em áreas produtivas. Muitas dessas famílias estão sendo despejadas, e a situação na cidade se deteriorou rapidamente. Um clima de guerra se instaurou, exigindo reforço policial. Comércios locais fecharam as portas em protesto contra a reintegração de posse.

A frustração dos ocupantes é palpável. “Nós sofremos por 15 anos para abrir essa terra, transformá-la em algo produtivo, e agora tudo está sendo tomado de nós”, declarou um dos assentados. A ação do INCRA, embora legalmente respaldada, deixou um sentimento de injustiça e abandono entre aqueles que dedicaram suas vidas a essas terras.

A situação se desenrola há anos, alimentada por denúncias de pessoas que acreditam que os sitiantes que passaram a vida toda abrindo terra, sofrendo e se endividando para torná-las produtivas são ricos e não precisam das terras.

Nas redes sociais, a revolta de cidades próximas aumentou ainda mais após a divulgação de um vídeo em que as terras tomadas estão sendo sorteadas pelo INCRA para novas famílias da reforma agrária em potes de sorvete. A maneira como esse processo está sendo conduzido intensificou a sensação de desrespeito e indignação entre os antigos ocupantes.

A Procuradoria-Geral Federal e a Advocacia Geral da União (AGU) justificam a ação com base nas investigações que revelaram irregularidades e crimes, mas para os ocupantes e a população de Itanhangá os fatos apurados são mentira, “só quem viveu a vida inteira aqui sabe a realidade” disse um popular. O sentimento predominante é de revolta e desilusão. A cidade de Itanhangá está em um estado de incerteza, aguardando os próximos desdobramentos dessa conturbada situação.

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